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Fio invisível

Photo by Roman Kraft on Unsplash




O amor tinha vivido desde sempre naquela rua. Sentia-lhe o aroma, o perfume, delicado mas profundamente arrebatador. As ombreiras das janelas eram ornamentadas com as mais belas flores. Das pedras da calçada brotavam o apego, a afeição, o carinho. Tinha as cores do amor, do insaciável amor.
Sentia a rua a envolver-me, a abraçar-me. Caminhava tranquilamente por aquela calçada, outrora pisada por outras gentes, outras histórias, outros amores. Era absolutamente absorvente. Sentia na ponta dos dedos a delicadeza das paredes, frágeis como o amor.
Sentia-me em casa. Faltavas-me, porém, tu. Queria tanto que estivesses aqui comigo. Que sentisses as vibrações desta rua, que, sem querer, nos faz sorrir.
Nem todas as pessoas nos acompanham na longa viagem que é a vida. Às vezes temos que a fazer sozinhos. Não existem pessoas certas, nem erradas. Existem aquelas que não nos largam, lutam e persistem lado a lado connosco. Tu não foste uma dessas pessoas.
Uma antiga crença chinesa diz-nos que “Um fio invisível conecta os que estão destinados a conhecer-se…Independentemente do tempo, lugar ou circunstância…O fio pode esticar ou emaranhar-se, mas nunca irá partir.”
Não era o nosso caso. Quebras-te a linha que nos amarrava. Não eras tu, simplesmente não eras tu o meu destino.

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